sexta-feira, 19 de março de 2010

NARRATIVAS


O texto narrativo pode ser curto ou alongar-se, de acordo com os fatos que são contados, e pode ter a participação de uma ou mais personagens.

Existem, entretanto, determinadas características que diferenciam a narração escrita, seja ela em forma de crônica, conto, novela ou romance. Vejamos essas características.



CRÔNICA

É uma narrativa condensada, que focaliza um flagrante da vida, pitoresco e atual, real ou imaginário, com ampla variedade temática, num tom poético, porém coloquial. Sua ação é rápida e sintética. Assemelha-se a urna reportagem jornalística.

O texto “A idade da pedra”, de Carlos Eduardo Novaes, que foi lido no início do Capítulo 12, enquadra-se nessa definição. E uma crônica que mistura o humor à crítica social. O autor analisa o comportamento do adolescente e o do adulto frente às obrigações sociais e familiares, numa linguagem fluente, coloquial, através de um enredo rápido e simples.

Dentre nossos melhores cronistas, temos: Luis Fernando Veríssimo, Fernando Sabino, Loureço Diaféria, Rubem Braga, Carlos Drummond de Andrade, Rachei de Queiroz, Cecília Meireles e muitos outros.



CONTO

Trata-se de uma narrativa objetiva que apresenta um único conflito, tomado já próximo do seu desfecho. Encerra uma história com poucas personagens, e também tempo e espaço reduzidos. Ocorre a presença de diálogos que revelam o conflito entre as personagens.

No conto destacam-se: Machado de Assis, Monteiro Lobato, Lygia Fagundes Telles, Mário de Andrade, Luís Vilela, Ignácio de Loyola Brandão, Marina Colasanti e outros.



ROMANCE

Caracteriza-se como uma narrativa longa, de trama ou enredo complexo, com um conflito central e vários secundários que se relacionam entre si. Existe também um número ilimitado de personagens e total liberdade de espaço e tempo.

As personagens trabalhadas são planas ou redondas, de acordo com a complexidade de seu comporta­mento. A personagem plana apresenta uma atitude previsível e marcante que se define através de um único traço: é fraco ou de temperamento forte, bom ou mau etc. Já a personagem redonda ou esférica possui vários aspectos, sendo imprevisível nos seus atos. Ora é santa, ora é demônio, louca ou sensata etc.

No romance, o tempo pode ser cronológico (tempo material, marcado pelo relógio) ou psicológico (existente na mente da personagem, baseia-se no fluxo desordenado do inconsciente). A maioria dos romances é narrada em 3ª pessoa, ou seja, o narrador está distante dos fatos, como observador; mas há aqueles cujo foco narrativo é em lª pessoa, com narrador-personagem. Inúmeros são os nossos romancistas: Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Graciliano Ramos, Jorge Amado, Paulo Coelho, Autran Dourado, Adonias Filho, João Ubaldo Ribeiro, entre outros.



NOVELA

Na novela, ocorre uma pluralidade e sucessividade de células dramáticas, relativamente independentes e superficiais, conservando um elo que lhes serve de encadeamento. Esse elo pode ser uma ou mais personagens que permanecem em outros capítulos, enquanto alguns conflitos são substituídos por outros. Ocorre a presença de diálogos rápidos ou breves, a narrativa é direta, sem divagações e com pouca descrição. Quanto ao tempo, espaço, foco narrativo, número e espécie de personagem, a novela é semelhante ao romance, sendo um pouco menor que este e maior que o conto.

São autores de novelas: Érico Veríssimo, Guimarães Rosa, Fernando Sabino, Graciliano Ramos e outros.

Para você conhecer melhor um desses tipos de narrativa, vamos à leitura de um dos contos de Lygia Fagundes TelIes?



NARRAÇÃO: O MONÓLOGO

Você já estudou o diálogo, uma conversa entre duas pessoas. Mas quando uma só pessoa fala, respondendo a si própria, ou seja, fica meditando com seus “próprios botões”, temos então um monólogo.

Observe o monólogo de um ascensorista que, trabalhando durante anos num mesmo prédio, pôde conhecer particularidades da vida de cada morador. Ali, preso diariamente naquele espaço do elevador, ele se distraía, falando consigo mesmo. Leia o monólogo.



O ASCENSORISTA

Não sei por quê, amanheci hoje com predisposição para a melancolia. Comecei servindo com certa indiferença, sem atentar bem no que fazia. Mais parecendo uma sombra conduzindo sombras. Será que a minha sina é ficar subindo e descendo gente até o fim da vida? E esse prédio? Daqui a cem, duzentos anos, que será dele? Terá aquela mesma velhinha se repetindo à janela? E que espécie de gente, que paixões, que negócios entre suas paredes? Homens e mulheres de sempre, fazendo a mesma coisa, com outras caras, outros nomes?... 

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FONTE: material didático/pedagógico: Colégio Disciplina  

FÁBULAS


A fábula é um historia narrativa que surgiu no Oriente, mas foi particularmente desenvolvido por um escravo chamado Esopo, que viveu no século 6º. a.C., na Grécia antiga. Esopo inventava histórias em que os animais eram os personagens. Por meio dos diálogos entre os bichos e das situações que os envolviam, ele procurava transmitir sabedoria de carácter moral ao homem. Assim, os animais, nas fábulas, tornam-se exemplos para o ser humano. Cada bicho simboliza algum aspecto ou qualidade do homem como, por exemplo, o leão representa a força; a raposa, a astúcia; a formiga, o trabalho etc. É uma narrativa inverossímil, com fundo didático. Quando os personagens são seres inanimados, objetos, a fábula recebe o nome de apólogo. A temática é variada e contempla tópicos como a vitória da fraqueza sobre a força, da bondade sobre a astúcia e a derrota de preguiçosos.

A fábula já era cultivada entre assírios e babilônios, no entanto foi o grego Esopo quem consagrou o gênero. La Fontaine foi outro grande fabulista, imprimindo à fábula grande refinamento. George Orwell, com sua Revolução dos Bichos (Animal Farm), compôs uma fábula (embora em um sentido mais amplo e de sátira política).

As literaturas portuguesa e brasileira também cultivaram o gênero com Sá de Miranda, Diogo Bernardes, Manoel de Melo, Bocage, Monteiro Lobato e outros.Uma fábula é um conto em que as personagens falam sendo animais e que há sempre uma frase a ensinar-nos alguma coisa para não cometermos erros.


Características:

As fabulas são narrativas curtas, na qual os personagens são animais e nelas sempre no final mostra uma lição de moral.
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FONTE: http://pt.wikipedia.org/wiki/F%C3%A1bula

  O Burro Juiz:

"Disputava a gralha com o sabiá, afirmando que a sua voz valia a dele. Como as outras aves rissem daquela pretensão, a bulhenta matraca de penas, furiosa, disse:Nada de brincadeiras. Isto é uma questão muito séria, que deve ser decidida por um juiz. Canta o sabiá, canto eu, e a sentença do julgador decidirá quem é o melhor artista. Topam?
- Topamos! piaram as aves. Mas quem servirá de juiz?
Estavam a debater este ponto, quando zurrou um burro.- Nem de encomenda! exclamou a gralha. Está lá um juiz de primeiríssima para julgamento de música, pois nenhum animal possui maiores orelhas. Convidê-mo-lo.Aceitou o burro o juizado e veio postar-se no centro da roda.
-  Vamos lá, comecem! ordenou ele.
O sabiá deu um pulinho, abriu o bico e cantou. Cantou como só cantam sabiás, garganteando os trinos mais melodiosos e límpidos. Uma pura maravilha, que deixou mergulhado em êxtase o auditório em peso.- Agora eu! disse a gralha, dando um passo à frente.E abrindo a bicanca matraqueou uma grita de romper os ouvidos aos próprios surdos.Terminada a justa, o meritíssimo juiz deu a sentença:
- Dou ganho de causa à excelentíssima senhora dona Gralha, porque canta muito mais forte que mestre sabiá.
  
Moral da História: Quem burro nasce,  togado ou não, burro morre. “
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O LEÃO E O RATO

Depois que o Leão desistiu de comer o rato porque o rato estava com espinho no pé (ou por desprezo, mas dá no mesmo), e, posteriormente, o rato, tendo encontrado o Leão envolvido numa rede de caça, roeu a rede e salvou o Leão (por gratidão ou mineirice, já que tinha que continuar a viver na mesma floresta), os dois, rato e Leão, passaram a andar sempre juntos, para estranheza dos outros habitantes da floresta (e das fábulas). E como os tempos são tão duros nas florestas quanto nas cidades, e como a poluição já devastou até mesmo as mais virgens das matas, eis que os dois se encontraram, em certo momento, sem ter comido durante vários dias. Disse o Leão:

- Nem um boi. Nem ao menos um paca. Nem sequer uma lebre. Nem mesmo uma borboleta, como hors-d'oeuvres de uma futura refeição.

Caiu estatelado no chão, irado ao mais fundo de sua alma leonina. E, do chão onde estava, lançou um olhar ao rato que o fez estremecer até a medula. "A amizade resistiria à fome?" - pensou ele. E, sem ousar responder à própria pergunta, esgueirou-se pé ante pé e sumiu da frente do amigo(?) faminto. Sumiu durante muito tempo. Quando voltou, o Leão passeava em círculos, deitando fogo pelas narinas, com ódio da humanidade. Mas o rato vinha com algo capaz de aplacar a fome do ditador das selvas: um enorme pedaço de queijo Gorgonzola que ninguém jamais poderá explicar onde conseguiu (fábulas!). O Leão, ao ver o queijo, embora não fosse um animal queijífero, lambeu os beiços e exclamou:

- Maravilhoso, amigo, maravilhoso! Você é uma das sete maravilhas! Comamos, comamos! Mas, antes, vamos repartir o queijo com equanimidade. E como tenho receio de não resistir à minha natural prepotência, e sendo ao mesmo tempo um democrata nato e confirmado, deixo a você a tarefa ingrata de controlar o queijo com seus próprios e famélicos instintos. Vamos, divida você, meu irmão! A parte do rato para o rato; para o Leão, a parte do Leão.

A expressão ainda não existia naquela época, mas o rato percebeu que ela passaria a ter uma validade que os tempos não mais apagariam. E dividiu o queijo como o Leão queria: uma parte do rato, outra parte do Leão. Isto é: deu o queijo todo ao Leão e ficou apenas com os buracos. O Leão segurou com as patas o queijo todo e abocanhou um pedaço enorme, não sem antes elogiar o rato pelo seu alto critério:

- Muito bem, meu amigo. Isso é que se chama partilha, Isso é que se chama justiça. Quando eu voltar ao poder, entregarei sempre a você a partilha dos bens que me couberem no litígio com os súditos. Você é um verdadeiro e egrégio meritíssimo! Não vai se arrepender!
E o ratinho, morto de fome, riu o riso menos amarelo que podia, e ainda lambeu o ar para o Leão pensar que lambia os buracos de queijo. E enquanto lambia o ar, gritava, no mais forte que podiam seus fracos pulmões:
- Longa vida ao Rei Leão! Longa vida ao Rei Leão!

MORAL: Os ratos são iguaizinhos aos homens.
Millôr Fernandes

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