quarta-feira, 4 de março de 2009

O testamento da águia

Houve há muito tempo uma grande águia que vivia solitária no alo de uma montanha. Mais abaixo, moravam seus filhos. Certo dia, sentindo que a morte estava próxima, chamou-os com um poderoso grito e, assim que os viu reunidos, começou a falar-lhes:

― Procurei criá-los de modo que pudessem enfrentar o sol e, com isso, voar mais alto que qualquer outra ave. Os que não conseguiam suportar a luz e o calor, deixei morrer à míngua. Portanto,vocês são tão fortes que nenhum animal se atreverá a atacar seus ninhos. Porém, assim como serão temidos e respeitados, devem igualmente respeitá-los e deixar que comam os restos de suas caças.

― Sinto que o momento de minha morte está bem próximo, continuou a dizer-lhes. Mas não quero esperá-lo aqui no meu ninho, vou em direção ao sol e chegar o mais próximo possível de seu calor, até que os raios queimem minhas velhas asas. Depois disso, cairei de volta na terra e meu corpo mergulhará nas águas. No entanto, como esse é o destino das águias, voltarei à tona pronta para iniciar uma outra vida.

Tal como dissera em seu testamento, a águia alçou voo e majestosamente foi contornando amontanha até que, num súbito impulso, subiu rumo ao sol para que este, queimando-a, desse-lhe, enfim, o merecido descanso.

Angela Leite de Souza, in a cotovia e outras fábulas. Belo Horizonte: Dimensão, 1999

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