domingo, 20 de abril de 2008

Diplomacia

NÃO HÁ VAGAS

(Ferreira Goulart)

O preço do feijão

Não cabe no poema. O preço

Do arroz

Não cabe no poema.

Não cabem no poema o gás

A luz o telefone

A sonegação

Do leite

Da carne

Do açúcar

Do pão

O funcionário público

Não cabe no poema

Com seu salário de fome

Sua vida fechada em arquivos.

Como não cabe no poema o operário

Que esmerila seu dia de aço

E carvão

Nas oficinas escuras

- porque o poema, senhores

está fechado:

“não há vagas”

Só cabem no poema

O homem sem estômago

A mulher de nuvens

A fruta sem preço

O poema, senhores,

Não fede

Nem cheira

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