domingo, 27 de dezembro de 2009

Poesia Geométrica


Pontudo poliedro
Ao entrar numa equação
Encontrou um Rombóide exemplar
De ângulos sem par
E negra simetria linear
"Eureka!", estremeceu.
"Newton, me ajude de verdade,
Que perco a gravidade!"
Doido negreiro,
Roçou o seu cateto
Nas quinas do parceiro
E, ao se sentir enorme
Disse baixinho, ao preto:
"Meu Deus, que cuneiforme!"
"Sou teu isógono"
Disse o Rombóide, lacônico.
"Mas pode me chamar de isogônico."
E os dois propuseram

E x MC2 - 3,1416 (24) x 69   ou seja
477ª 15

Um teorema disforme
Em carícias ardentes,
Um amor trapeziforme
Bissectando linhas confluentes.
Neste instante, porém, surgiu o Heptaedro.
Que, com olhar oblíquo, gargalhou a verdade pendular,
"Somos todos heterógonos.
E isto um triângulo sexangular!"
E, cheio de apetite,
Propôs uma unidade tripartite.
Mas repressão é coisa séria
Elementos cheios de hidrostática
Saltaram da quarta-matéria
E, com força Kinética,
Atacaram a proposta sexo-estética:
"Prendam esse trio amoral
Poligonal
Por movimentos secantes
Revoltantes.
Gestos esféricos
Histéricos,
E atitudes contangentes
Indecentes!
E não venham com lérias:
Galileu já falava
Da excrescência das matérias
"Amado Poliedro" gemeu o Rombóide.
"Essas figuras obtusas
Vão nos meter na hipotenusa!"
"Comigo aqui"
Disse Poli
"Ninguém te fará mal, reto ou oblíquo!"
E, com socos ubíquos
Nos críticos
Golpes elípticos
Em moelas
Pernadas paralelas
Em deltóides
E pontapés ovóides
Em umbigos,
Se pôs a derrubar os inimigos.

A força de tal paixão
Atraiu num instante
A patrulha angular policitante
Que transformou os atacantes numa nuvem etérea
Com alguns rojões de antimatéria

Nossa história se encerra
Com a vitória do Amor-Verdade
Que não explode
A população da Terra
.


O Pif-Paf/O Cruzeiro, 1949

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